A televisão nunca foi uma fonte de informação. Desde sempre, serviu mais para moldar percepções do que para esclarecer factos. O que parecia uma janela aberta para o mundo, mostrou ser um écran fechado, que só nos mostra o que querem que vejamos. O que deveria ser uma forma de nos manter informados e críticos, foi sempre uma ferramenta de manipulação, onde a verdade se perde nas entrelinhas e nos ângulos escolhidos. O que vemos nos noticiários e nos programas de debate não é uma busca pela verdade, mas uma construção que serve os interesses de quem detém o poder.
O comentário político, que poderia ser uma oportunidade para aprofundar as questões, tornou-se numa imposição de narrativas: escondido no meio das notícias, distorce os factos e alimenta-nos com respostas prontas, moldando a forma como vemos o mundo sem nos dar espaço para pensarmos por nós mesmos. A crítica política, que deveria ser um convite à reflexão, tornou-se numa ferramenta para anestesiar a nossa capacidade de questionar.
Quando as campanhas eleitorais chegam, o que deveria ser um debate sério sobre o futuro do país transforma-se numa competição vazia. O que importa já não é o conteúdo, mas a performance. O público é alimentado com promessas e respostas fáceis, enquanto as questões mais urgentes ficam para trás. A política perde-se numa luta de egos, onde o que conta é a imagem e não a substância. Os debates de meia hora terminam e, de imediato, os comentadores entram em cena, durante demasiado tempo. Nota 8 a este candidato, nota 5 àquele. A política perde a sua seriedade e transforma-se num espectáculo sem profundidade, sem compromisso com a verdade.
Não sou contra a opinião, mas contra o momento em que esta se disfarça de factos, quando a propaganda se mistura com a informação. O que sobra é um público que se senta e consome, sem perceber que nada vai mudar, porque a revolução foi transformada numa performance inconsequente.
Onde está a resposta? Na sabotagem. Desligar a televisão depois de mais um debate, depois de mais uma notícia interrompida. Dar-nos o tempo de reflectir, de conversar com quem está ao nosso lado, de questionar o que acabámos de ver e ouvir. A resistência começa quando paramos de ser apenas espectadores e começamos a agir, a recuperar a nossa capacidade crítica, a parar de aceitar o que nos é imposto como verdade. A revolução não está na televisão, está em nós e na forma como escolhemos ver o mundo.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1945.