O parágrafo 175, como ficou conhecido, integrou, pela primeira vez, a lei do Império Alemão em 1871. À semelhança daquilo que acontecia um pouco por toda a Europa, o Código Penal alemão passou a criminalizar e a punir as relações sexuais entre indivíduos do sexo masculino. Apesar das várias alterações legislativas, o parágrafo 175 vigorou até 1994.
O parágrafo integrava a secção 13 do Código Penal alemão, da qual constava a regulamentação dos «Crimes e Ofensas contra a Moralidade» («Verbrechen und Vergehen wider die Sittlichkeit»), incluindo a bestialidade, a bigamia, o incesto e a agressão sexual.
«Atos sexuais não naturais (widernäturliche Unzucht) cometidos entre pessoas do sexo masculino, ou por humanos com animais, são puníveis com prisão; a perda de direitos civis também pode fazer parte da condenação.» Código Penal do Império Alemão, secção 13, parágrafo 175
Desde o Império Alemão (1871-1918) até ao período da República de Weimar (1918-1933), o conceito de «atos sexuais não naturais» foi interpretado pelo sistema de justiça alemão de forma parcimoniosa. Vale por dizer que, concretamente, apenas os casos em que havia prova de que dois (ou mais) homens se tinham envolvido sexualmente, em atos «semelhantes à penetração» («beischlafsähnlich»), eram subsumíveis ao Parágrafo 175. Por seu turno, só constituiria prova suficiente de uma tal conduta a interseção dos arguidos em flagrante delito pelas autoridades policiais ou, em alguns casos, que, no momento dos factos, estivessem presentes testemunhas capazes de relatarem e confirmarem as acusações.
Não obstante, há notícia de campanhas alusivas à descriminalização das relações sexuais entre homens anteriores à fundação do Império Alemão. No início do século XX, o médico e sexólogo Magnus Hirschfeld (1868-1935) surge como um dos principais defensores da descriminalização das relações sexuais entre homens, rejeitando a ideia fundante de que a atração entre pessoas do mesmo sexo tem origem numa perversão psicopatológica, propugnando, ao invés, que a homossexualidade é uma característica inata. Para sustentar esta posição, desenvolveu estudos médicos, estatísticos e antropológicos que procuravam demonstrar a diversidade sexual como parte da condição humana.
Em 1897, Magnus Hirschfeld fundou o Comité Científico Humanitário («Wissenschaftlich-humanitäres Komitee»), destinado à reforma do Parágrafo 175. No que concerne a tal normativo, juristas e políticos alemães envolveram-se num amplo debate a respeito da (des)criminalização das relações sexuais entre homens. Entre as forças partidárias que defendiam o fim da criminalização das relações sexuais entre homens estavam o Partido Social Democrata («Sozialdemokratische Partei»), o Partido Comunista («Kommunistische Partei Deutschlands»), a Liga Alemã para os Direitos Humanos («Deutsche Liga für Menschenrechte») e o Partido Democrático Alemão («Deutsche Demokratische Partei»).
Contudo, o Partido Nazi opôs-se veementemente à descriminalização das relações sexuais entre homens, o que permitiu que o Parágrafo 175 permanecesse em vigor durante a República de Weimar. Em 1919, Hirschfeld fundou o Instituto de Sexologia («Institut für Sexualwissenschaft»), em Berlim, onde promoveu investigações pioneiras sobre identidade de género, orientação sexual e direitos sexuais. O instituto funcionou como centro de pesquisa, clínica e arquivo documental até ser destruído pelos nazis em 1933, o que levou Hirschfeld ao exílio em França.
Uns anos antes, em 1927, Wilhelm Frick (1877-1946), na altura deputado no Reichstag, afirmou que os «(…) homens que cometem atos sexuais não naturais com homens devem ser perseguidos com extrema severidade, pois estes atos levarão à desintegração do povo alemão (…)». Dois anos após a nomeação de Hitler como Chanceler da Alemanha, em 1935, procedeu-se à revisão do Parágrafo 175, tendo-lhe sido retirado o segmento «não naturais» («widernatürliche»). Segundo os juristas nazis, esta expressão compelia o sistema judicial a uma definição muito restrita do crime, limitando-o aos atos «semelhantes à penetração». A alteração da redação do tipo criminal conduziu, pois, a uma interpretação mais ampla do conceito de «atos sexuais» e possibilitou que uma panóplia de comportamentos e gestos de índole íntima e sexual fossem considerados como criminalmente relevantes e, assim, punidos.
«Um homem que comete atos sexuais (Unzucht) com outro homem, ou que permite ser abusado através de atos sexuais por um homem, será punido com pena de prisão.» Versão nazi do Parágrafo 175
Importa realçar que, entre 1933 e 1935, o regime nazi procedeu também ao encerramento de vários locais de encontro da comunidade gay e lésbica, como bares e clubes, e censurou artigos jornalísticos e de opinião que abordavam a homossexualidade.
A partir de 1935, o Parágrafo 175 passou a ter duas alíneas: a 175a e a 175b. A primeira secção fazia referência a quatro comportamentos que o governo considerou serem violações particularmente gravosas ao Parágrafo 175, nomeadamente o ato de um «homem que coagia outro homem a fazer sexo» ou que «iniciava relações sexuais com um subordinado ou empregado do sexo masculino (…) ou um menor de 21 anos de idade». O regime nazi propugnava que os homens que tinham estes «impulsos» eram particularmente perigosos para a sociedade e para o povo alemão. Segundo o parágrafo 175, alínea a, a estes atos correspondia uma pena de prisão até 10 anos de trabalhos forçados, traduzindo-se numa moldura penal especialmente dura e longa, por referência ao Código Penal alemão, no seu todo.
Apesar da possibilidade de o Parágrafo 175 ser alongado para prever condutas das mulheres homossexuais, o governo optou por não o fazer, na ótica de que aquelas não constituíam uma ameaça para o Estado Alemão. Na ótica do «Reich Health Office», que produziu pareceres neste sentido, a sexualidade feminina era vista como maleável, passiva e subordinada à função materna. A crença de que mulheres lésbicas poderiam ser «reeducadas» ou forçadas a cumprir o papel de mães de «arianos puros» sustentava a exclusão jurídica. Como observa Claudia Schoppmann (1993), o regime considerava que a homossexualidade masculina minava a virilidade e a coesão militar, enquanto a feminina era invisibilizada ou tratada como desvio social menor. A lógica eugénica e patriarcal do regime nazi subordinava o corpo feminino à reprodução, e qualquer desvio dessa função era tratado como ameaça à ordem biológica do Estado.
No final de 1936, o chefe da polícia alemã e líder das SS, Heinrich Himmler (1900-1945), assumiu a liderança na repressão da homossexualidade, fundando-se na necessidade de proteção, consolidação e reprodução do povo alemão. É nesta sequência que surge o Departamento Central do Reich para o Combate à Homossexualidade e ao Aborto («Reichszentrale zur Bekämpfung der Homosexualität und der Abtreibung»), parte integrante da Kripo, a polícia criminal. Esta organização colaborava também com a Gestapo, a polícia política que perseguiu e agrediu homens suspeitos de manterem relações sexuais com outros homens.
Importa referir, também, que a partir de 1936, Heinrich Himmler foi nomeado Chefe da Polícia Alemã, o que lhe conferiu controlo direto sobre os principais ramos policiais do Reich: a Gestapo (polícia secreta), a Kripo (polícia criminal) e a Orpo (polícia uniformizada). Embora formalmente subordinado ao Ministério do Interior, Himmler passou a responder apenas a Hitler, consolidando uma estrutura paralela de poder.
Esta centralização intensificou-se a partir de 1939 com a criação do «Reichssicherheitshauptamt» (RSHA), que fundiu os serviços de segurança e inteligência sob a liderança de Reinhard Heydrich, seu subordinado direto e arquiteto da repressão ideológica e racial (Browder, 1996; Longerich, 2012). Em 1943, Himmler acumulou também o cargo de Ministro do Interior do Reich, formalizando a fusão entre autoridade política e policial, num modelo de Estado policial totalitário que eliminava qualquer separação entre justiça, segurança e ideologia (Gellately, 2001; Wildt, 2009).
Ernst Röhm, líder das SA («Sturmabteilung»), era homossexual. Röhm foi uma das figuras mais poderosas do regime nazi, especialmente entre 1931 e 1934, quando comandou as tropas paramilitares responsáveis pela consolidação do poder de Hitler nas ruas. A sua orientação sexual era conhecida nos círculos internos do partido e chegou a ser tolerada por Hitler durante algum tempo, sobretudo pela lealdade de Röhm e pela utilidade estratégica das SA. No entanto, essa tolerância não se estendeu indefinidamente. Em junho de 1934, durante a «Noite das Facas Longas», Röhm foi executado por ordem de Hitler, oficialmente por conspiração contra o regime. Contudo, a sua homossexualidade foi explorada propagandisticamente para justificar a purga e reforçar o discurso moralizador do novo Estado nazi.
Várias pesquisas (Lautmann, 1994; Plant, 1986) apontam para que, aproximadamente, 100 mil homens tenham sido detidos por violarem o Parágrafo 175, durante este período. Mais da metade destas detenções, cerca de 53 400, resultaram, efetivamente, em condenações.

Os dados sobre prisões e condenações por violações ao Parágrafo 175 durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) são muito incompletos. Sabe-se, ademais, que a maior parte dos homens acusados nestes termos foram condenados por tribunais comuns a uma pena de prisão. Apenas uma minoria, estima-se que rondará os 10 mil homens, foi enviada para campos de concentração, por tempo indeterminado. Os indivíduos detidos pela Gestapo eram mantidos em prisão protetiva («Schutzhaft»), enquanto os prisioneiros da Kripo ficavam em prisão preventiva («Vorbeugungshaft»). Há também a particularidade de grande parte dos homossexuais enviados para os campos de concentração serem reincidentes, isto é, terem sido detidos e condenados mais do que uma vez por violação ao Parágrafo 175.
A partir de 1938 começaram a chegar os primeiros homens homossexuais aos campos de concentração, que eram identificados com um triângulo cor-de-rosa invertido, costurado nos uniformes.

A homossexualidade feminina
Ao contrário dos homens, as mulheres homossexuais não foram perseguidas, de forma sistemática, apenas pela sua orientação sexual. Durante o regime nazi, não havia lei, nem uma política oficial, que criminalizasse as mulheres que mantivessem entre si relações sexuais, como aconteceu com os homens gays. Contudo, a partir de 1933, o regime nazi passou a perseguir e a destruir comunidades e redes lésbicas que tinham eclodido durante a República de Weimar (1918-1933).
A partir de 1933, mais do que a vivência da sua sexualidade, as mulheres homossexuais temiam ser perseguidas pelas suas opiniões políticas e pela obrigação de corresponderem às normas de género que vigoram na época. Com base nestes e em outros fatores, algumas mulheres lésbicas, nomeadamente as que pertenciam à classe operária, foram presas e uma minoria foi, inclusivamente, para os campos de concentração. Nestes casos, as prisioneiras eram classificadas como presas políticas ou diagnosticadas com transtorno de personalidade antissocial (comumente conhecida como sociopatia). Sabe-se que grande parte das mulheres homossexuais que foram assassinadas durante o período da Segunda Guerra Mundial eram judias.
Durante a República de Weimar, uma parte da sociedade alemã desafiou as normas sexuais e de género, especialmente nas cidades de Berlim, Hamburgo e Frankfurt. A comunidade lésbica fundou clubes e associações sociais, de modo a promover redes de apoio (as mais conhecidas foram Violetta e Monbijou - «Damenklub Violetta» e «Damenklub Monbijou», em Berlim). Além dos encontros informais em bares para lésbicas, como a discoteca «Monokel-Diele», as mulheres homossexuais também se reuniam em «Eldorado».
A partir de 1920 estes locais de encontro passaram a ser anunciados, amiúde, em publicações direcionadas para a comunidade lésbica. Parte da comunicação social contribuiu para o crescimento das redes de mulheres homossexuais, sobretudo a «Frauenliebe» (Amor de Mulheres) e o «Die Freundin» (A Namorada). Nas zonas mais urbanizadas, as leitoras tinham oportunidade de comprar este jornais e/ou revistas em quiosques e bancas e em todo o país era possível assiná-los pelo correio. A literatura lésbica foi surgindo cada vez mais.
Todavia, a partir de 1933, com a chegada de Hitler ao poder, estas comunidades foram perseguidas e os seus locais de encontro foram invadidos e encerrados. Na primavera de 1933, a polícia prussa encerrou alguns bares, entre os quais o «Eldorado», em Berlim, e o «Dornröschen», na cidade de Colónia, localizada na Alemanha Ocidental. Os locais de encontro considerados mais discretos conseguiram permanecer abertos durante mais algum tempo, mas ficaram sujeitos a uma crescente vigilância policial. Houve, também, inúmeras restrições no que toca à comunicação social e à liberdade de imprensa, tendo o regime nazi encerrado e censurado jornais e revistas dirigidas aos públicos gay e lésbico. Embora fosse proibido, vários membros da comunidade queer continuaram a encontrar-se em locais clandestinos, onde se dedicaram à resistência antinazi.
Ao contrário do que acontecia na República de Weimar, as mulheres homossexuais deixaram de conseguir viver e socializar, de forma livre, na Alemanha nazi. Uma parte significativa da sociedade alemã considerava as lésbicas socialmente desajustadas. Importa referir que as mulheres homossexuais e que eram consideradas arianas tinham muito mais liberdade do que as mulheres lésbicas judias, ciganas ou racializadas, que enfrentaram, ademais, perseguição e violência por razões étnicas, raciais e religiosas. Em algumas circunstâncias, as mulheres homossexuais, especialmente nas classes mais abastadas, tentaram esconder a sua sexualidade: retiraram-se da esfera pública, mudaram-se para outras cidades (ou países), casaram por conveniência ou com homens gays (os conhecidos «casamentos de lavanda») e adquiriram documentos de identificação falsos.
A partir de testemunhos e documentos de arquivo, sabe-se que algumas mulheres homossexuais foram presas e enviadas para campos de concentração. A esmagadora maioria destas prisioneiras faziam parte de outros grupos, ou seja, eram judias, ciganas e/ou tinham evidenciado um comportamento político subversivo. Isto é, a principal causa de prisão nos campos de concentração, por parte de mulheres homossexuais, não era a sua orientação sexual, mas antes questões políticas, sociais, étnicas, raciais e religiosas.
Entre a negação e a (in)visibilidade, as prisioneiras homossexuais foram encaminhadas, principalmente, para o Campo de Concentração de Ravensbrück, o único exclusivamente para mulheres. Apesar de a homossexualidade feminina não ter sido criminalizada durante a Alemanha Nazi, as mulheres lésbicas foram perseguidas por meios não ortodoxos e algumas internadas em campos de concentração após diagnóstico psiquiátrico de transtorno de personalidade antissocial.
Testemunhos
Elli Smula (1914-1943), de nacionalidade alemã, trabalhava para a Autoridade de Transporte de Berlim (BVG) como condutora de transportes pesados, no distrito de Treptow, na capital alemã. Depois de uma denúncia anónima, que a acusava de não ter comparecido ao trabalho, por ter ido sair e ingerido álcool na noite anterior, juntamente com uma colega do sexo feminino, Elli foi detida pela Gestapo e levada para uma esquadra, em Alexanderplatz, em setembro de 1940. Com uma diferença de apenas três dias, Margarete Rosenberg (1910-1985) foi também detida pelo Departamento Central do Reich para o Combate à Homossexualidade e ao Aborto.
Depois de terem sido interrogadas, com recurso à violência e à tortura, em pelo menos quatro ocasiões diferentes, tanto Elli Smula como Margarete Rosenberg acabaram por ser transferidas para o Campo de Concentração de Ravensbrück, a 30 de novembro de 1940. Curiosamente, antes de serem presas, a BVG tinha recebido, nos meses anteriores, inúmeras queixas de funcionárias que mantinham relações sexuais lésbicas, mas não as denunciou à polícia, por não considerar as acusações graves.
Mais do que terem uma relação homossexual, Elli e Margarete foram acusadas de comprometer o normal funcionamento da empresa, já que tinham faltado ao trabalho. Elli Smula veio a falecer no Campo de Concentração de Ravensbrück, localizado a 90 km a norte de Berlim, no dia 8 de julho de 1943, com apenas 29 anos.

Thérèse Pierre (1908-1943) nasceu em Épernay, no norte de França e, antes da Segunda Guerra Mundial, era professora e tinha uma vida política ativa. Em 1927, Thérèse conheceu a professora e escritora Emma Pitoizet, apaixonaram-se e começaram a viver juntas. Em 1935, separaram-se, porque Emma queria ter filhos e Thérèse queria dedicar-se à vida política. Uns anos depois, em 1942, em Carhaix, na Grã-Bretanha, conheceu um oficial da Resistência Finisterra e juntou-se, prontamente, à resistência francesa. No mesmo ano, sob o pseudónimo de Madeleine, tornou-se chefe do grupo de resistência Fougères e era responsável por mais de uma centena de homens. Participou, inclusive, na organização dos grupos Francs-Tireurs et Partisans, formados pelo Partido Comunista Francês.
Em 23 de outubro de 1943, Thérèse Pierre foi presa em Fougères pelo Sicherheitsdienst, os serviços de inteligência, e transferida para Rennes. Na prisão Jacques-Cartier, foi torturada, espancada e humilhada por dois dias consecutivos. Anos mais tarde, a sua companheira de prisão Madame Lequeu, de Dol-de-Bretagne afirmou que Thérèse soluçava, gritava e exclamava: «Não vou falar ... Não me vão obrigar a falar.» No seu testemunho, Madame Lequeu ouviu as últimas palavras de Thérèse: «Não receberam nada de mim.» Na manhã seguinte, no dia 26 de outubro de 1943, Thérèse Pierre foi encontrada pendurada nas grades da cela, embora nunca se tenha percebido, ao certo, se cometeu suicídio ou foi assassinada.
Depois da sua morte, Thérèse Pierre recebeu várias Condecorações de Guerra, incluindo o Cavaleiro da Legião de Honra, a Ordem da Divisão, a Medalha da Resistência Francesa e a Cruz de Guerra com Estrela de Prata.

Martha Geiringer (1912-1943) nasceu em Viena, filha de Irma e Wilhelm Geiringer. Entre os anos de 1931 a 1935, Martha estudou biologia e sociologia na Universidade de Viena e, em 1935, iniciou o seu doutoramento em Biologische Versuchsanstalt, na Academia de Ciências de Viena. Entre 11 e 13 de março de 1938, deu-se a anexação do Anschluss, país vizinho da Áustria. Por ser judia, Martha foi convidada a sair da Academia de Ciências de Viena, a 15 de março de 1938. Juntamente com a irmã Gertrude, conseguiu fugir de Viena e emigrou para a Bélgica, onde, em outubro de 1938, tentou retomar e concluir os seus estudos de biologia na Universidade de Ghent. A sua irmã, Gertrude Geiringer 1890-1981, conseguiu emigrar para Inglaterra e, mais tarde, para os EUA, em 1939. Martha foi acolhida por Yvonne Fontaine (1913-1996), médica de clínica geral e combatente da resistência de Ghent, e pelo marido, o arquiteto Andreas Claessens.
Martha e Yvonne apaixonaram-se, mas como a família de Martha era judia, foi forçada a apresentar a demissão na Universidade de Ghent sem acabar o doutoramento. A 8 de junho de 1941, é obrigada a apresentar-se no Escritório de Registo de Estrangeiros, na localidade de Ghent. Uns dias mais tarde, Martha e Yvonne, que havia pedido o divórcio ao atual marido, são denunciadas às autoridades alemãs por Andreas Claessens, simpatizante do regime nazi. Entre 1941 e 1942, há registo que Martha foi presa três vezes, uma delas por se recusar a utilizar a Estrela de Davi.
A 15 de janeiro de 1943, foi transferida para o campo de internamento Caserne Dossin, em Mechelen e, em seguida, deportada para o Campo de Concentração de Auschwitz. É desconhecido o dia em que Martha Geiringer faleceu, mas estima-se que tenha sido entre 18 e 20 de janeiro de 1943, com apenas 30 anos. A mãe de Martha, Irma Geiringer (1885-1957), a irmã Gertrude Adler e seus dois irmãos, o jornalista Alfred Geiringer (1911-1996) e o médico e fundador da Associação Médica da Nova Zelândia, Erich Geiringer (1917-1995) conseguiram fugir da Áustria e sobreviveram à Segunda Guerra Mundial.

Nelly Mousset-Vos (1906-1987), cantora de ópera belga e membro da Resistência Francesa, foi presa em Ravensbruck, em dezembro de 1944, e, mais tarde, levada para o Campo de Concentração de Mauthausen, em março de 1945. Nelly atuou em várias cidades europeias como Paris, Milão e Zurique, apresentando óperas francesas e clássicos italianos. Esteve casada com o crítico musical Edouard Mousset até à década de 1930, com quem teve duas filhas. Em 1943, a Gestapo deteve-a em Paris por suspeita de espionagem. Quando estava presa em Ravensbrück, apaixonou-se por Nadine Hwang (1902-1972), antiga amante de Natalie Clifford Barney (1876-1972).
A 5 de maio de 1945, Nelly foi libertada pelo exército dos EUA e, mais tarde, reuniu-se com as duas filhas em Bruxelas. Nadine, que estava em segurança na região de Malmö, regressou primeiro a Paris e, em 1946, para Mousset-Vos, em Bruxelas. Nelly retomou a sua carreira profissional e trabalhou, inclusive, para o Instituto Nacional Belga de Radiodifusão. Em 1950, emigrou com Nadine para Caracas, na Venezuela, juntamente com as filhas. No ano de 1969, o casal regressou a Bruxelas e viveu até à morte de Nadine, em 1972. Enquanto estava no Campos de Concentração, Nelly escreveu um diário e, após a libertação, Nadine dedicou-se à fotografia e ao cinema, tendo registado a sua vida na Venezuela.

Therese Giehse (1898-1975), atriz judia alemã, fugiu para a Suíça, de forma a obter um passaporte britânico. Em 1936, casou-se com o escritor inglês e homossexual John Hampson-Simpson (1901-1955). Depois de ter trabalhado sete anos nas províncias alemãs, Giehse conseguiu representar no Teatro Kammerspiele, em Munique. Embora ficasse desconfortável, Therese era especialmente popular no regime nazi, já que até Hitler apreciava a sua personagem na peça de teatro «Finalmente uma verdadeira mulher alemã nesta casa infestada de judeus!».
Em 1933, Therese Giehse, juntamente com Erika e Klaus Mann e o músico Magnus Henning fundaram o cabaré literário antifascista «Die Pfeffermühle», em Munique. Apesar de ter durado apenas dois meses, antes de ser encerrado pelo Partido Nazi, «Die Pfeffermühle» tornou-se num centro para combatentes da resistência antifascista e para a comunidade queer, em Munique. Em março do mesmo ano, Giehse teve uma relação amorosa com Erika Mann (1905-1969), atriz e escritora de nacionalidade alemã.
Entre 1934 e 1936, «Die Pfeffermühle» viajou pela Europa, onde apresentaram parábolas, fábulas e retratos destinados à sensibilização e consciencialização da situação política na Alemanha Nacional-Socialista. Entre 1938 e 1945, Therese trabalhou no Teatro Schauspielhaus, em Zurique. Durante o exílio, Giehse interpretou a primeira Mãe Coragem, na estreia mundial da peça pacifista de Bertolt Brecht, a Mutter Courage Und Ihre Kinder. Durante as décadas de 1950 e 1960, Therese interpretou várias protagonistas das obras do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt. Após a sua morte, em 1975, várias ruas adotaram o seu nome em honra do seu legado: Therese-Giehse-Allee em Munique, Therese-Giehse-Bogen em Hamburgo, Therese-Giehse-Strasse em Berlim e Therese-Giehse-Strasse em Zurique.

Lotte Laserstein (1898-1993), pintora com dupla nacionalidade (alemã e sueca), foi proibida de expor obras de arte na Alemanha Nazi, porque três dos seus quatro avós eram judeus. Em 1935, veio também a público que se envolveu romântica e sexualmente com outras mulheres. Depois de fugir para a Suécia em 1937, casou com o empresário sueco Sven Marcus (1938-1940).
Embora tenha tentado trazer a sua mãe, Meta Laserstein (1867-1943) e sua irmã Käte Laserstein (1900-1965), uma mulher lésbica assumida, não conseguiu. Durante uma busca na sua casa em Berlim, Meta Laserstein recusou-se a revelar o paradeiro da filha mais nova, Käte, e foi presa a 29 de julho de 1942. Em dezembro do mesmo ano foi levada para o Campo de Concentração de Ravensbrück, onde veio a falecer a 16 de janeiro de 1943. Já Käte Laserstein, sobreviveu com uma identidade falsa, em Berlim.

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![[O REAL EM SEGUNDA MÃO]](https://cdn.prod.website-files.com/6783a91157c5ce7778d0ca56/68f6d3205c743ff5afbeca89_IMG_1095.jpg)